domingo, outubro 22, 2006

Dentro

E aquelas palavras, que deveriam soar como uma brisa sutil, tiveram o efeito de um punhal em seu coração. Sentada em seu colo, chorava sentido... Sabendo que aquele era o momento do fim do que viveram, embora fosse o início de algo que ainda não compreendia bem. No último mês chorara muito por eles. Sabia que estavam irremediavelmente juntos, mas sua ausência lhe doía os ossos. A ruptura acontecera justamente por um afastamento súbito dele que fizera com que ela não suportasse continuar.

Mas procurou-o novamente. Saudade, angústia. Algo na garganta ainda para ser colocado na veia daquela relação. Fim... Era o fim e lhe doía. O amor dele lhe doía. Porque era a confirmação de que tudo que viveram fora verdade. A verdade dói. A mentira consola, ampara. Facilita o caminho.... Como seguir sabendo que ficara para trás um amor? Por que não ficaram juntos? Será que o amor que ele jurava era na verdade uma mentira para confortá-la? Perguntas... Há momentos sem respostas para perguntar. Mas era hora de continuar, pois o amor declarado naquele instante colocara um fim naquela história. Era uma declaração de eternidade, de subjetividade do contato. Algo maior os envolvia. Laços que unem mais do que o toque...

“E milagrosamente ela compreendera tudo sem que falassem. Ninguém saberia que um dia tinham se querido tanto que haviam permanecido mudos, sérios, parados. Dentro de cada um deles acumulavam-se conhecimentos nunca devassados por estranhos. Ele fora embora um dia, mas não importava tanto. Ela sabia que entre os dois havia ‘segredos’, que ambos eram irremediavelmente cúmplices. Se fosse embora, se amasse outra mulher, iria embora e amaria outra mulher para partilhar-lhe depois, mesmo que nada lhe contasse”. Clarice Lispector – Perto do Coração Selvagem.

Finalmente... Estavam um no outro... Dentro.

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