terça-feira, dezembro 12, 2006

Mãos Dadas - Paixão Segundo GH


“Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer nessa pequena luta por não perder a consciência e entrar no mundo maior – muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho” (...)


Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,


não direi os suspiros ao anoitecer,

a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou carta de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria,

o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.


“Enquanto escrever e falar vou ter que fingir que alguém está segurando minha mão”
Oh pelo menos no começo, só no começo. Logo que puder dispensá-la, irei sozinha. Por enquanto, preciso segurar essa tua mão – mesmo que não consiga inventar teu rosto e teus olhos e tua boca. Mas embora decepada, esta mão não me assusta. A invenção dela vem de tal idéia de amor como se a mão estivesse realmente ligada a um corpo que, se não vejo, é por incapacidade de amar mais. Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou uma pessoa inteira. E como imaginar um rosto se não sei de que expressão de rosto preciso? Logo que puder dispensar tua mão quente, irei sozinha e com horror. O horror será a minha responsabilidade até que se complete a metamorfose e que o horror se transforme em claridade” Pág. 18.

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